sexta-feira, agosto 04, 2006

Querer Mais

Era uma festa familiar, destas que reúnem
tios, primos, avós e alguns agregados que
ninguém conhece direito. Jogada no sofá,
uma garota não estava lá muito sociável,
a cara era de enterro.
Quieta, olhava para a parede como se ali
fosse encontrar a resposta para a pergunta
que certamente martelava em sua cabeça:
o que estou fazendo aqui?
De soslaio, flagrei a mãe dela também
observando a cena, inconsolável, ao mesmo
tempo em que comentava com uma tia.
"Olha pra essa menina. Sempre com esta cara.
Nunca está feliz. Tem emprego, marido, filho.
O que ela pode querer mais?
"Nada é tão comum quanto resumirmos a vida
de outra pessoa e achar que ela não pode querer mais.
/ Fulana é linda, jovem e tem um corpaço, o que
mais ela quer? Sicrana ganha rios de dinheiro,
é valorizada no trabalho e vive viajando, o que é que lhe falta?
Imaginei a garota acusando o golpe e
confessando: sim, quero mais!!!
Quero não ter nenhuma condescendência
com o tédio, não ser forçada a aceitá-lo
na minha rotina como um inquilino inevitável.
A cada manhã, exijo ao menos a expectativa
de uma surpresa, quer ela aconteça ou não.
Expectativa, por si só, já é um entusiasmo.
Quero que o fato de ter uma vida prática e
sensata não me roube o direito ao desatino.
Que eu nunca aceite a idéia de que a maturidade
exige um certo conformismo.
Que eu não tenha medo nem vergonha
de ainda desejar.
Quero uma primeira vez outra vez.
Um primeiro beijo em alguém que ainda não
conheço, uma primeira caminhada por uma
nova cidade, uma primeira estréia em algo
que nunca fiz, quero seguir desfazendo as
virgindades que ainda carrego, quero ter
sensações inéditas até o fim dos meus dias.
Quero ventilação, não morrer um pouquinho
a cada dia sufocada em obrigações e em
exigências de ser a melhor mãe do mundo,
a melhor esposa do mundo, a melhor qualquer coisa.
Gostaria de me reconciliar com meus defeitos
e fraquezas, arejar minha biografia, deixar que
vazem algumas idéias minhas que não são muito abençoáveis.
Queria não me sentir tão responsável sobre o
que acontece ao meu redor. Compreender e aceitar
que não tenho controle nenhum sobre as emoções
dos outros, sobre suas escolhas, sobre as coisas que
dão errado e também sobre as que dão certo.
Me permitir ser um pouco insignificante.
E na minha insignificância, poder acordar um dia
mais tarde sem dar explicação, conversar com
estranhos, me divertir fazendo coisas que nunca imaginei,
deixar de ser tão misteriosa pra mim mesma, me conectar
com as minhas outras possibilidades de existir.
O que eu quero mais? Me escutar e obedecer o meu
lado mais transgressor, menos comportadinho, menos
refém de reuniões familiares, marido, filhos, bolos de
aniversário e despertadores.
E também quero mais tempo livre...e mais abraços.

4 Comments:

Blogger kingthere said...

A-Do-Rei!!! Ótimo o texto. Adoro palavras que nos fazem pensar.

Bom final de semana.

Ah, em tempo, nãoconsegui comprar as passagens pelo site da Gol. Menina, o povo faz promoção e nào deixa a gente comprar as porcarias das passagens aéreas?? Quando tiver outra não esquece de me avisar, viu?

Abraço.

04 agosto, 2006 17:25  
Blogger BARCO ALADO said...

Aqui com tanto queijo, neve, chocolate (CHOCOLATE), ouviu CHOCOLATRA??? neve em pleno mês de Agosto, daquela que dá mesmo para esquiar, comuma beleza natural e rara, não consegui até agora aceder à net, mas quando consegui...vê só...vim correndo...

Princesa...vc é sempre boa onda, adorei as postagens de uma semana...
Bjos

05 agosto, 2006 21:45  
Blogger anouska said...

luluquinha, tô de volta na área. um dos PCs ficou pronto, mas eu tô super-dodói. uma crise alérgica braba, tô me entupindo de polaramine. amanhã se eu estiver melhor apareço lá na obra. beijo grande!

06 agosto, 2006 19:41  
Anonymous Anônimo said...

Fala de novo seu enrdeço no Olhares.com por favor...
Eu ja fui membro do Olhares.com, mas fui "expluso" porque postei uma montagem "mal criada"......rs

06 agosto, 2006 20:47  

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